Neste texto, Benjamin procura discutir sobre as
possibilidades da reprodução da obra de arte. É certo que sempre se pode
reproduzir ou imitar arte. Porém, a reprodutibilidade técnica surge como um novo
processo, uma nova possibilidade.A xilogravura, por exemplo, vai tornar
possível a reprodução em série de desenhos, muito antes da imprensa
direcioná-lo para a escrita. Do mesmo modo, a litografia permite que haja um
aprofundamento na produção em massa, assim como nas novas formas de criação.Já
com a fotografia, as técnicas vão ganhar um novo ponto de partida. A mão deixa
de ter a responsabilidade artística nesse processo de reprodução da imagem,
sendo substituída pelo olho.
Posteriormente, com a reprodução técnica do som, o cinema vai conquistar uma
posição de maior abrangência entre as obras de arte tradicionais.
Entretanto, um importante elemento é deixado de lado, o
que Benjamin chama de "o aqui e agora de obra de arte". Com a
reprodutibilidade técnica, perde-se o instante, as mudanças permeadas pelo
tempo, as sensações transmitidas pela obra. Sua identidade e autenticidade
estão na vivência presencial. Por outro lado, a reprodução técnica tem a
possibilidade de acentuar certos aspectos característicos da figura original,
além de capturar imagens que ultrapassam as capacidades visuais do homem, de
dispor os objetos em situações diversas, e de aproximar as pessoas da obra
(mesmo que não seja de modo literal). A reprodução técnica vai atualizar, fazer
reviver as obras tradicionais. Mas é justamente a tradição que se perde. A
autenticidade da obra de arte, sua aura, sua essência são, discretamente,
deixadas de lado. "A autenticidade de uma coisa é a quintessência de tudo
o que foi transmitido pela tradição, a partir de sua origem, desde sua duração
material até o seu testemunho histórico." (p. 02). O que ocorre, é uma
espécie de desvalorização deste "aqui e agora", uma liquidação da
herança e tradição cultural.
Os aspectos organizacionais do homem em seu processo
histórico/cultural, condizem diretamente com as mudanças no campo da percepção.
O declínio da aura da obra transita por esses modos de percepção, uma vez que
essa figura é sentida na forma de tempo e espaço, e a relação com suas
reproduções técnicas partem para um campo mais atemporal, e para uma difusão
voltada para os movimentos em massas. A moeda de troca surge da necessidade e
preocupação, por parte dessas massas técnico-reprodutoras, de transmitir uma
semelhança tão fiel às características originais, que, com a capacidade de
captar essa esfera sensorial, existe uma aproximação, uma troca quase íntima do
espectador com a aura da obra tradicional em sua unicidade. “Orientar a
realidade em função das massas e as massas em função da realidade é um processo
de imenso alcance, tanto para o pensamento como para a intuição.” (p.03)
E quando se fala de uma autenticidade aurática, deve-se
relacionar às questões tradicionais ritualísticas da obra de arte desde os seus
primórdios. A obra em si, por um longo período histórico, tem sua autenticidade
diretamente relacionada à funções ritualísticas, que se transformam também
junto das metamorfoses da percepção humana. Elas permanecem num sentido
teológico, mesmo com as movimentações profanas e com o advento da arte pela
arte. Mas com a reprodutibilidade técnica, a arte finalmente vai se emancipar
desse laço com o ritual, autenticando sua aura no movimento político.
Como forte exemplo dessa movimentação, a introdução do
cinema falado atinge não somente o estímulo do público a voltar a frequentar as
salas cinematográficas, mas em maior escala, atinge os interesses nacionais
quando a produção cinematográfica utiliza de maiores recursos técnicos e
industriais, e, consequentemente, capitais.
Walter Benjamin discorre sobre a obra de arte analisando
dois pólos específicos, dentre vários aspectos: a obra com valor culto e a obra
com valor de exposição. A primeira, já apresentada anteriormente, diz respeito
à produção de cunho ritualístico, místico e espiritual, e existe aqui, uma
preocupação em mantê-las restritas apenas para esse fundamento. Já o valor
exposicional, advém de uma emancipação da obra de arte para com esses cânones.
As obras deixam de ser restringidas, para expandir-se no que diz respeito à sua
exposição, atingindo assim uma grande massa de espectadores. Com a
reprodutibilidade técnica, esse valor de exposição toma tão grandes proporções,
de forma que surge aqui questionamentos sobre as funções até então vistas
apenas como artísticas, e que poderiam ser vistas como acidentais. De fato, é
perceptível que os meios técnico-reprodutíveis tenham seu valor exposicional
gerado de forma acidental por sua própria composição. Mas é justamente essa
composição, desenvolvida para fins artísticos, que definem as funções como
sendo de cunho necessariamente artístico.
Essa transformação de valores é sentida na fotografia,
quando o homem se retira da imagem fotográfica, fixando apenas os locais
característicos de influências humanas, uma vez que os valores de culto eram
sentidos, aqui, na expressão da aura,
proporcionada através da fotografia de rostos de pessoas.
A obra de arte, antes
concebida como culta, com a era da reprodutibilidade, passa a ter sua imagem
num nível de auto-contemplação. Ela se retro-alimenta, uma vez que se encontra
direcionada à reprodução em massa, e os processos estéticos ligados à
politização da arte. A problemática criada por Benjamin é da relação direta da
arte exposicional com o fascismo, mesmo se recorrendo à intencionalidade da
“arte pela arte”. Existe uma necessidade de se extrair a arte desse campo,
porém os meios funcionais dificilmente vão se separar do campo político. É
necessário que se desenvolva um movimento completamente desassociado desses
campos, mas, uma vez inseridos e utilizando de recursos completamente
relacionados à política, ocorre um enfraquecimento por parte dos movimentos.
Por isso essa associação com um fascismo de forte poder sobre essas massas
artísticas.
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